ColunistasFrei Marcos Sassatelli, op

CEBs: uma Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

O sonho do Concílio Vaticano II (1962-1965) de uma Igreja-Comunidade, Pobre, Ministerial, Povo, Santa e Pecadora, e toda ela Missionária (Dom Aloísio Lorscheider) foi retomado e aprofundado pela II Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha de Medellín (1968), a partir da Opção pelos Pobres: empobrecidos, marginalizados, oprimidos, explorados e descartados.

Medellín aponta – como caminho para fazer acontecer a Igreja sonhada pelo Vaticano II – as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), inicialmente chamadas Comunidades Cristãs de Base ou, simplesmente, Comunidades de Base. As CEBs são, pois, Comunidades Eclesiais Populares e – sempre segundo Medellín – a Pastoral Popular é a Evangelização a partir da Base, a partir dos Pobres.

As CEBs têm também o apoio do Documento de Puebla (1979) e de outros Documentos da Igreja em geral, latino-americana e caribenha, regional e local. Infelizmente, porém – sobretudo nestes últimos anos – o apoio teórico dos Documentos às CEBs não é sempre acompanhado do apoio prático das Igrejas locais. Ao contrário, atualmente muitas dessas Igrejas fazem questão de não falar mais de CEBs e de voltar ao modelo de Igreja pré-conciliar.

Continuando as reflexões teológico-pastorais sobre a Igreja, na perspectiva da Eclesiologia da Libertação, inicio – com este texto –  uma segunda série de artigos (ou colunas), que tratam de temas fundamentais para compreendermos as CEBs.

Elas são Comunidades que voltam às fontes bíblico-patrísticas e, ao mesmo tempo, estão sempre atentas aos sinais dos tempos, seguindo o método (caminho) “ver-julgar-agir” (“analisar-interpretar-libertar”) e “celebrar”, adotado pelo Concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição Pastoral “A Igreja no mundo de hoje” (GS).

Na Igreja Católica – e também em outras Igrejas Cristãs – do Brasil e da América Latina e Caribe, as CEBs – no campo e na cidade – nascem no final da década de 1950 e início da década de 1960. “Surgem na conjuntura da sociedade contemporânea que produziu uma atomização da existência, um anonimato geral das pessoas e uma fragmentação em praticamente todos os níveis da convivência humana, devido aos desafios vindos de uma sociedade globalizada e urbanizada onde a vivência comunitária parecia não ter mais espaço para existir. Como reação a este fenômeno, há uma tendência de se retomar as relações primárias entre as pessoas e buscar relacionamentos de reciprocidade. As CEBs representam esta reação no interior da/s Igreja/s”.

Entre os elementos que – por um longo período – ajudaram na preparação do terreno para o surgimento das CEBs, “destacamos a experiência da Catequese Popular (Movimento catequético), a contribuição da Ação Católica Brasileira, que assume o modelo belga, francês e canadense da Ação Católica especializada (JAC – Juventude Agrária Católica; JEC – Juventude Estudantil Católica; JIC – Juventude Independente Católica; JOC – Juventude Operária Católica; JUC – Juventude Universitária Católica), o Movimento de Educação de Base (MEB), o Movimento por um Mundo Melhor (MMM), os diferentes Planos de Pastoral da CNBB (Plano de Emergência – 1962, Plano de Pastoral de Conjunto – 1966), contando ainda com o Movimento Bíblico que busca novas formas de interpretação da Palavra de Deus, e o Movimento Litúrgico na Europa e também no Brasil” (https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2017/06/12/).

As CEBs têm consciência de ser “uma Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus” (1º Encontro Intereclesial de CEBs. Vitória – ES, 6-8 de janeiro de 1975). Por isso, elas são ao mesmo tempo: “um novo e antigo jeito (modo) de ser Igreja” e – como ideal a ser perseguido – “um novo e antigo jeito de toda a Igreja ser”.

Nessa segunda série de artigos – além do apresentado neste texto – abordarei os temas: CEBs: uma Igreja que atualiza o jeito de ser de Jesus de Nazaré; uma Igreja que é constituída de irmãos e irmãs em Comunhão; uma Igreja que é sinal visível do Reino de Deus no Mundo; uma Igreja que é militante de um Mundo Novo; e – por fim –  uma Igreja que vive a Espiritualidade da Libertação.

 

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo